Odete Roitman sempre foi conhecida por sua arrogância e sua língua afiada, mas cada vez mais seus ataques atingem não apenas rivais, como também aqueles que nada têm a ver com suas disputas pessoais. Ana Clara, uma jovem em processo de reconstrução de vida, sentiu o peso desse desprezo durante um encontro recente. A frieza de Odete e suas palavras cortantes deixaram um clima insuportável no ar, criando um mal-estar que reverberou até mesmo entre os mais próximos.
Heleninha, que luta contra seus próprios demônios e tenta trilhar o caminho da sobriedade, percebeu claramente como o comportamento da mãe havia ferido Ana Clara. Sentindo-se responsável, decidiu que precisava agir.
Alguns dias depois, após mais uma reunião dos Alcoólicos Anônimos, Heleninha se aproximou de Ana Clara, que arrumava seus pertences em silêncio.
O clima era de introspecção, mas havia também uma oportunidade de aproximação sincera.
Heleninha respirou fundo antes de falar:
— "Ana Clara… eu queria pedir desculpas. Pelo jeito da minha mãe, por tudo que ela disse. Não é justo com você. Eu sei como é difícil tentar se reerguer e ainda ter que lidar com críticas cruéis."
Ana Clara ergueu os olhos, surpresa.
— "Você não precisa se desculpar, Heleninha. O problema não é você."
Mas a filha de Odete insistiu:
— "Mesmo assim, me dói ver como ela trata as pessoas. Eu sei que às vezes ela me destrói também… e eu não quero que você ache que todos nós somos assim."
A conversa se transformou em um momento de conexão. Ana Clara, ainda desconfiada, aos poucos foi se abrindo.
— "Eu já ouvi muita coisa ruim na vida, mas quando vem da sua mãe, dói mais. Porque ela fala como se não houvesse valor em ninguém."
Heleninha assentiu, emocionada:
— "Eu entendo. Passei anos acreditando que eu não tinha valor, que nada do que eu fizesse seria suficiente. Só aqui, nesse grupo, aprendi que não sou só os erros que cometi. E você também não é, Ana Clara. Não deixe que ela roube isso de você."
As duas trocaram um abraço tímido, mas sincero.
Enquanto isso, Odete comentava em sua mansão sobre a reunião. Ao saber que Heleninha havia se aproximado de Ana Clara, reagiu com sarcasmo:
— "Só podia ser coisa da minha filha fracassada. Sempre se humilhando para quem não merece.
Um dia ainda vai me agradecer por abrir seus olhos para a realidade."
A fala, carregada de veneno, mostrou mais uma vez como Odete jamais admitiria a vulnerabilidade da filha ou a tentativa dela de reconstruir pontes.
De volta para casa, Heleninha refletia sobre a atitude da mãe.
"Por mais que ela nunca mude, eu não posso ser como ela. Preciso ser diferente. Preciso mostrar que ainda sou capaz de me conectar com as pessoas, de pedir perdão, de estender a mão."
Essa determinação revelava um amadurecimento importante em sua trajetória de superação.